Publicado em 24/08/2013, às 19h50
Do JC Online
O peixe-boi mais velho do Centro Nacional de Pesquisa e
Conservação de Mamíferos Aquáticos (CMA/ICMBio), localizado na Ilha de
Itamaracá, ao Norte do Grande Recife, chegou aos 50 anos. Xica, a
aniversariante, é aquela que viveu confinada por 22 anos (1970-1992) num
tanque na Praça do Derby, área central da capital pernambucana.
Foram 22 anos de
sofrimento, diz a bióloga Maria Adélia de Oliveira, representante da
Associação Pernambucana de Defesa da Natureza (Aspan). O animal morava
num recinto raso e pequeno para suas dimensões: 2,45 metros de
comprimento e cerca de 300 quilos de peso. Enquanto isso, o tanque tinha
12 metros de diâmetro e 1,5 metro de profundidade.
Sem espaço para se locomover, Xica, uma fêmea de
peixe-boi marinho (Trichechus-manatus), nadava apenas em círculo, no
sentido horário, o que lhe custou uma má formação lombar. Além disso, a
água do canal da Avenida Agamenon Magalhães, cheia de esgoto, se
infiltrava no tanque, nos períodos de maré alta, conta Maria Adélia.
“A gente via a água
mudar de cor, quando a maré subia”, diz ela. Periodicamente, a
prefeitura secava o recinto para dar banho em Xica, esfregando o corpo
com vassouras. Num dos banhos, agitada, ela feriu as costas na areia
acumulada no fundo do tanque. O machucado nunca cicatrizava. Como o
lugar era raso, Xica vivia com as costas sempre ao sol.
Para completar, as pessoas chegavam muito perto do
animal. “Davam comida e pipoca, tocavam nela, eram condições
inadequadas”, lembra Maria Adélia. Por dez anos, a Aspan tentou levar
Xica para um cativeiro natural, numa praia da Paraíba. Em 1990, com a
inauguração de uma base do Projeto Peixe-Boi (na época ligado ao
Instituto Brasileiro do Meio Ambiente, o Ibama) em Itamaracá, a entidade
iniciou campanha para transferir Xica para a ilha.
A Aspan recorreu ao
Ministério Público, que obrigou o Ibama a fazer a transferência. Em
agosto de 1992, com 29 anos de idade, Xica foi levada para o centro,
onde permancece há exatos 21 anos. Lá, curou a ferida das costas e teve
três filhos, mas nenhum sobreviveu. É a primeira peixe-boi do Brasil a
parir em cativeiro. “Xica é uma vencedora”, resume Adélia.
A peixe-boi foi capturada num curral de pesca da Praia
de Ponta de Pedras, em Goiana, Litoral Norte de Pernambuco, em 1963,
ainda filhote. Passou sete anos num tanque, numa fazenda da mesma praia,
até ser doada à Prefeitura do Recife e levada para a Praça do Derby.
O aniversário de Xica
será comemorado até o fim de 2013, no CMA. Cartazes nos ônibus e nas
escolas convidam a população para celebrar a data. O museu do centro
preparou exposição com fotos de Xica, maquete do antigo cativeiro na
Praça do Derby e painéis contando a história de vida do mamífero. Filme e
palestra completam a programação.
O CMA (antigo Projeto Peixe-Boi e hoje vinculado ao
Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade, o ICMBio) abre
para visitações todos os dias, das 9h às 16h. O ingresso custa R$ 10
(inteira) e R$ 5 (meia). Escolas públicas não pagam e visitas em grupo
devem ser agendadas. O telefone do centro é 3544-1056.
Ainda
a muito que fazer! É por isso que a ASPAN existe!
Luiz Fernando
Coordenador Executivo